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Um escrito inédito de Machado de Assis

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Auditório cheio. O professor Sifrônio Luccas abriu o seminário de literatura da Universidade Federal com a frase:

— Tudo que o Machado de Assis nos deixou escrito é literatura de valor universal.
Um homem de terno em desalinho e barba por fazer, ergueu-se na oitava fila da platéia e falou alto, de maneira que todos ouvissem:

— Desculpe interromper, professor, mas tenho que discordar. Nem tudo que o Machado escreveu é importante e eu posso provar – o homem acenou uma folha e encarando o público que o olhava como se olhasse um maluco. – Não é uma opinião. Eu tenho um escrito inédito do escritor Machado de Assis. Posso ler para vocês.

O professor ficou curioso com a afirmação de que um texto inédito do maior escritor brasileiro aparecesse agora. Devido à maneira arrogante do intruso, ele não teve outra saída a não ser deixar o homem subir até o palco.

— Eu estou curioso e acho que todos aqui também querem tomar conhecimento destes escritos que o senhor diz serem inéditos, o que eu duvido. Não devem ter nenhum valor literário.

O homem subiu ao palco e a ele foi dado um microfone:

— Sei que todos vocês são machadianos como eu. Sei que provavelmente conhecem toda a obra do bruxo do Cosme Velho. Mas este texto eu achei dentro de um livro que comprei no sebo. Era um volume de poesia de um desconhecido, onde havia uma dedicatória para Machado de Assis. O livro pertenceu ao escritor que colocou dentro dele, sabe-se lá por que, esta folha de papel. Paguei do meu bolso um exame de grafologia e tenho o atestado de que a letra neste escrito é mesmo de Machado de Assis.

O homem mostrou a folha de papel amarelada pelo tempo. Todos esperavam aflitos a leitura do que chamava de “ um escrito inédito de Machado de Assis”. Ele ajeitou os óculos e leu:

Rio de Janeiro
1 camisa
3 lenços
4 pares de meia
1 toalha de rosto
1 tolha de banho
1 lençol
2 fronhas de travesseiro
1 toalha de mesa

E o homem finalizou:

— É um rol para a lavadeira. Nada machadiano — disse o homem, descendo do palco. Sem receber nenhuma palma.

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