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A Procura

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Não foi por vocação que ele se tornou caixeiro-viajante. Escolheu esta profissão porque assim poderia ir de casa em casa, de cidade em cidade, de estado em estado, enfim, percorrer todo o país à procura de sua noiva que fugira com outro, para onde ninguém sabia.

Os anos passaram. Ele gastou muita sola de sapato, percorrendo tantas cidades, batendo tantas portas, que até perdera a conta. Envelhecera. Sentia-se cansado e sabia que a ex-noiva (já admitia ser ela ex) devia ter mudado muito, mas ele tinha certeza de que a reconheceria, mesmo depois de tanto tempo.

— Mãe, tem um moço aqui perguntando se a senhora quer comprar toalha de mesa — gritou a filha para o interior da casa, de onde a mãe respondeu, também aos berros.

— Não quero nada não. E eu não gosto de conversar com vendedores ambulantes não, porque com eles eu sempre passo pelas forcas caudinas.

— Passar pelas forcas caudinas! — o caixeiro-viajante repetiu atônito. Tirando alguns acadêmicos, apenas a sua ex-noiva usava esta expressão. Sim, só podia ser ela. Arriscou com voz insegura, chamando para o interior da casa:

— Marilda...

E aquela que foi sua noiva um dia, apareceu, vinda da cozinha.

— Marilda, sou eu, Lauro...

Sentaram-se. Ele contou de todas as solas de sapatos gastas, e de todas as portas que bateu à sua procura. Ela contou que tinha 6 filhos e um marido silencioso, contou que não lia mais, e que ia ser avó. Ele sentiu que tinha perdido o seu romantismo e seu amor em alguma rua de alguma cidade ou dentro de um dos tantos ônibus em que viajou. E sentiu-se estúpido. Despediu-se dela apressadamente e foi embora com sua mala.

— Quem era aquele homem? — quis saber a filha.

— Meu primeiro namorado. Fomos noivos. Abandonei-o para casar com seu pai. Ele percorreu mais de duas mil cidades me procurando.

— Pra quê?

— Pra me vender toalha de mesa — respondeu a mãe voltando pra cozinha.

1 comentários:

Anônimo disse...

Não seria forças caudinas em vez de "forcas" caudinas.
Osvaldo P. Castanha