O banco já tinha sido assaltado quatro vezes. O gerente, a princípio achou loucura, mas acatou a sugestão da caixa Clementina para prender o criminoso. A partir daquela data os atendentes deixariam ao lado da caixa do dinheiro um prato de doce, mas não um doce qualquer, teria que ser do doce que era invenção da mãe da Clementina, a dona Aurora. O doce, todos no banco sabiam, era uma deliciosa iguaria que só a mãe daquela funcionária, dona Aurora, sabia fazer e que levava o curioso nome de “docinho de Aurélio”. O doce foi batizado em homenagem ao marido da doceira, seu Aurélio, pai da caixa). Dona Aurora não passava a receita para ninguém e dizia que levaria o segredo de sua invenção para o túmulo. Na verdade o doce era muito, mas muito gostoso mesmo, do tipo com-gosto-de-quero-mais-e-quero-agora-se-não-eu-faço-um-escândalo-porra-caralho E não deu outra: o banco foi assaltado pela quinta vez e o ladrão levou o dinheiro e também todos os pratinhos de doces que, estrategicamente foram colocados nas bancadas dos caixas. Dois dias depois, fissurado para comer mais do docinho de Aurélio, o assaltante voltou ao local do crime, e, claro a polícia esperava por ele.
Aviso
IRREMEDIÁVEL
Via-se que o homem estava angustiado. Ele entrou na farmácia e entregou ao balconista o que achava ser a receita aviada pelo médico. Era uma carta de poucas linhas “Caso-me amanhã e vou morar em Munique. Queimei suas cartas e nossas fotos. Um vírus de computador apagará o que houve entre nós da minha memória. Procure um vírus e me apague da sua. Não nos veremos nunca mais. Sandra.”
-Isso é uma carta – balbuciou o farmacêutico.
O homem angustiado se desculpou e, atrapalhado, procurou a receita nos bolsos enquanto pegava a carta de volta. Depois de ler a receita o farmacêutico disse de modo sutil, mas revelando indiscrição:
- Não há remédio.
– Eu sei – disse o homem pegando a receita. – Ela viajou
hoje para Munique.
E foi procurar o remédio em outra farmácia.
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O TARADO
Entrei no táxi e senti um cheiro forte.
- O cheiro que o senhor está sentindo é de jaca.- me explicou o taxista sem que eu perguntasse. -- O porta-malas está cheio. Eu adoro jaca.
- Gosta mais de jaca do que mulher? – brinquei.
- Sou casado e tenho uma amante. Feriado que dá pra emendar, eu passo na mata de
Santa Teresa e colho de cinco a dez jacas. Pego a minha lourinha, dou desculpas pra minha mulher, digo a ela que tenho um freguês que vai descansar em Juiz de Fora e vou com a namorada pra uma casinha de praia de um amigo meu em Araruama. Passo dois dias lá só comendo.
- O que você come mais? – perguntei – Jaca ou a amante?
- Mais jaca, mais jaca...- respondeu ele apressadamente.
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