Aviso
O AQUÁRIO
Waltencir tinha ao lado de sua mesa onde trabalhava um aquário com um peixe chamado Cleo. As pessoas que trabalhavam na firma amavam Cleo, mas só souberam disso no dia que Waltencir foi demitido; seu chefe alegou cortes necessários.
O clima do escritório mudou depois disso: dava para sentir o baixo astral no ar e o sentimento de perda no rosto dos funcionários. Durante o expediente nos dias que se seguiram ouviam-se frases como essas:
– Gente, quando entro cumprimento todo mundo, mas agora falta o “bom dia, Cleo”.
– Não consigo trabalhar direito, sinto falta de alguma coisa e os meus olhos estão sempre procurando o Cleo.
Até o rabugento do seu Clovis, que implicava com o peixe, confessou: –– Sinto falta de xingar aquele peixinho nojento.
A produtividade daquele setor caiu e quando a contabilidade mostrou os números o chefe chegou a acusar o “desgraçado” do Waltencir, afinal levara o aquário e o peixe, que eram da firma e que aquilo vinha desmotivando os funcionários.
– Não – respondeu a psicóloga da empresa – o peixe foi Waltencir que comprou.
– Com dinheiro da firma – gritou o chefe, mostrando o quanto ele também gostava do Cleo.
Para acabar com o clima de velório, o chefe ligou para a casa do Waltencir, disse que queria recontratar o Cleo.
– O Cleo só vai se eu for.
Não teve jeito, Waltencir voltou ao escritório levando o aquário. Fizeram uma comemoração ruidosa, foi um dia de festa, como se fosse uma festa de fim de ano antecipada.
Pelos motivos errados Waltencir levou fama de “ser o peixinho do chefe”
LENDAS INDÍGENAS PONTO COM
As lendas indígenas, antes, eram contadas pelos mais velhos em volta da fogueira, e iam passando de geração em geração. Hoje, com os índios tendo acesso à internet, essas lendas vêm sofrendo influências da globalização e elas atualmente são retransmitidas via e-mail e andam um pouco com a síndrome do “crioulo doido” do Stanislaw Ponte Preta.
A ORIGEM DO TROVÃO
Tupã, enquanto viveu na Terra, bebia cauim. Tupã teve problema no fígado e foi viver no céu com os outros deuses e lá só tomava refrigerante. O trovão é o arroto de Coca Cola de Tupã.
OS DEUSES MORDEM E ASSOPRAM
Índio sempre manteve contato com a terra, por isso andava descalço. Para comer índio caçava na floresta que era protegida por Anhangá, que botava espinhos para que indio não matasse os bichos. Mas o generoso Tupã fez com que índio nascesse com a sola do pé grossa. Mas o branco acabou com floresta e Anhangá foi subornado pelo agronegócio. Branco trouxe loja e supermercado e índio não caça mais, por isso a sola do pé de índio ficou fina. Deve ser coisa de Anhangá, esse traíra. Mas Tupã ficou com pena dos índios e mandou de presente a chinela de dedo chamada “Havaiana”.
OS MALES DO AÇÚCAR
Índio que era índio não ia ao dentista, índio que era índio nem conhecia o açúcar. Hoje índio tem cárie e tem que tomar cuidado para preservar nem que seja um dente na boca: para rasgar o pacote de camisinha.
O ROUBO
A cidade de Nife é uma cidade pequena, de uns 20 mil habitantes. Foi nessa cidade que aconteceu um roubo que foi facilmente desvendado pelo delegado Zé Marrom.
Houve uma invasão na casa da rica viúva dona Catarina Albuquerque Rondonelli. O ladrão entrara na casa na ausência da proprietária e roubara o seu colar de esmeraldas. Quem fez isso foi descuidado ao deixar um livro bem ensebado no quarto, sobre a cômoda, de onde tirara a jóia. O livro era “As 1001 noites”. O delegado folheou o livro e viu um trecho marcado, leu e disse para a viúva.
– Já sei quem pegou o seu colar de esmeraldas, dona Catarina. Foi o Doidinho.
– Doidinho não é o filho da dona Ninita? Aquele que era inteligentíssimo e ficou doido de tanto ler e estudar?
– Esse mesmo. É o maluco folclórico da cidade há uns 30 anos, desde quando largou a faculdade de Letras na capital e veio morar com a mãe. Quem mais na cidade carrega um livro pra lá e pra cá o dia inteiro?
Na casa do Doidinho sua mãe, muito idosa, disse não acreditar que ele era o ladrão, mas deixou o delegado e dona Catarina falar com o filho. O delegado mostrou o livro pra ele.
– O livro é meu – disse Doidinho: – Os livros ensinam a gente muita coisa. Resolvem nossos problemas.
– Você está com um problema e roubou o colar, não é isso?
Dona Catarina, ainda sem entender, perguntou:
– Delegado, o que tem nesse livro que fez com que o Doidinho roubasse meu colar?
O delegado leu o trecho marcado:
– As 1001 noites. Noite 272. Abre aspas. “... a pedra de esmeralda, cuja cor, como se sabe, é a verde, e cujas propriedades escondidas são indescritíveis e autênticas, pois serena as tempestades, mantém a castidade de seu portador, afugenta a disenteria e os maus espíritos, decide favoravelmente um litígio e é de grande socorro nos partos”. Fecha aspas.
– Quer dizer que esse louco roubou meu colar de esmeraldas porque queria todos esses poderes que o livro diz?
– Ele só queria as pedras de esmeraldas para curar a disenteria.
Doidinho explicou que já havia tomado quatro das oito pedras, “de 4 em 4 horas”, como remédio. O delegado sentou-se e disse para a mãe do maluco:
– Dona Ninita, faz um café e traz o penico para o Doidinho. Nós vamos esperar.
